8 de fevereiro de 2020

confira a lista completa dos livros censurados em Rondônia

Tá certo, o Secretário de Estado da Educação, Swamy Vivecananda Lacerda de Abreu, já deu lá suas desculpas, e quem puder que acredite, mas o fato é que a Secretaria fez circular entre os coordenadores de ensino um memorando ordenando que fossem recolhidas 43 obras literárias das bibliotecas das escolas estaduais, além de "todos os livros de Rubem Alves", sabem lá os deuses do Olimpo por quê.

Confira abaixo o Index Librorum Prohibitorum:



Fonte: Sintonia de Rondônia

12 de agosto de 2019

FATURE-SE: o plano de Weintraub para os IFES



Dia 13 de Agosto é dia de mobilização pelas Universidades Públicas


No El País, Gregório Grisa fala sobre o projeto “Future-se” (ou “Fature-se”, como já se diz pelos corredores)


Depois de um semestre marcado por polêmicas e mudança de ministro, a pasta da Educação apresentou um projeto relativo às instituições a ela ligada. Elaboro aqui alguns questionamentos sobre a minuta do projeto de lei que cria o Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras — FUTURE-SE. O objetivo principal do programa é o “fortalecimento da autonomia administrativa e financeira das Instituições Federais de Ensino Superior — IFES”. A participação no programa pressupõe a contratação de Organização Social (OS) para fazer a gestão de atividades fins das IFES, como ensino, pesquisa e inovação. Ao aderir, as IFES teriam de cumprir um conjunto de exigências, entre elas, adotar programa de controle interno e auditoria externa.

Mas as universidades e institutos federais já contam com mecanismos de controle interno e passam por auditorias externas de órgãos ligados a União. Por que deveriam ser controladas e auditadas por mais um ente, em tese, a serviço também da União?

As IFES já realizam projetos e parcerias ligadas às suas atividades fim através das Fundações de Apoio. A relação entre o Ministério da Educação (MEC) e as IFES é direta. Por que criar e contratar entidades intermediárias? Quais são as Organizações Sociais com histórico de gestão consolidado no Brasil na área acadêmica, científica e educacional? Como seriam compostas essas Organizações Sociais e quais os critérios para sua aprovação pelo Ministério da Educação? A instituição de ensino também aprovaria a OS? Estamos falando de uma OS para cada IFES ou de uma ou algumas para toda a rede federal?

Não há limites legais previstos para a ação da OS no projeto, nada garante que ela mesma não poderá ir substituindo, com o tempo, as IFES em suas atividades-fim, na gestão de pessoas, na compra de materiais, equipamentos e insumos. A Seção III do Capítulo I da proposta trata das competências da OS, quase todas podem ser atribuídas às Fundações de Apoio existentes. Aliás, que papel teriam essas fundações com o advento desse programa? Elas ficariam obsoletas mesmo com capacidade instalada, servidores específicos e largo histórico de prestação de serviços?

Há várias passagens vagas e confusas no texto divulgado (baixa qualidade técnica de texto legislativo). Nessa mesma parte das atribuições da OS, por exemplo, consta: “V — exercer outras atividades inerentes às suas finalidades”. O que se depreende disso? No artigo 5° está previsto que a OS irá fiscalizar as receitas e despesas das IFES. O governo e o Tribunal de Contas já não fazem isso? No que a duplicação de atividade de fiscalização contribui para o “fortalecimento da autonomia administrativa e financeira das Instituições Federais de Ensino Superior — IFES”?

O programa “Future-se” prevê repasses de recursos orçamentários para as Organizações Sociais, bem como permissão de uso de bens públicos por elas. Porque não aumentar a autonomia das próprias IFES? Há legislação vigente que cobriria esse repasse de recursos e de bens para as autarquias, isso não seria uma medida mais eficaz do que terceirizar?

A possibilidade de doação de imóveis por parte do MEC para a OS, o que autorizaria uma alienação futura pela OS, preocupa. Nada no documento indica bases seguras para futuras alienações ou mesmo define critérios para essas doações. Mais razoável seria desburocratizar o uso e a alienação dos imóveis pelas próprias IFES.

Prevê-se que os servidores podem participar de atividades da OS, “desde que cumprida a carga horária de aulas”. A sala de aula é a única atividade do docente? O trabalho administrativo, de pesquisa, de extensão (atividade fundamental das IFES não mencionada no projeto) e o de ensino fora de sala parece não ter sido considerado. O servidor poderá se negar a participar?

Há vários pontos do programa que já estão previstos na Lei 13.243/2016 (Novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação). São eles: a forma de prestação de contas simplificada, que privilegie os resultados obtidos; prestação de serviços de apoio por meio de centros de serviços compartilhados; os itens previstos na Seção II do Capítulo II “Do empreendedorismo”. Por que não trabalhar pela efetivação do que está previsto nessa legislação? Ou então aprimorá-la?

Sobre o “Fundo da Autonomia Financeira das IFES”. Por que não autorizar às IFES a criarem fundos com essas receitas, geridos por suas Fundações de Apoio, por exemplo? Muitas das receitas ali previstas já podem ser geridas dessa forma pelas IFES. Essas ações são cobertas pela Lei 10.973/2004 (A Lei de Inovação Tecnológica).

Não está claro como será o tratamento das IFES que não aderirem ao programa. Nesses moldes, a tendência é de que os reitores não aceitem renunciar à gestão de suas instituições em nome de um projeto incerto. Muitas definições importantes ficam para posterior regulamentação. Por exemplo, o Comitê Gestor, responsável por acompanhar e supervisionar o “Future-se”, terá sua composição e seu funcionamento definidos em regulamento.

O formato do programa reforça a interpretação de que o atual governo “desconfia” das universidades, de que seu objetivo implícito é reduzir a autonomia e retirar o poder político dos acadêmicos, já que tais instituições seriam dominadas pelo que o ministro e o presidente da República classificam como “marxismo cultural”.

O gasto que mais cresce e comprime o orçamento no que tange as IFES é o obrigatório, pagamento de pessoal e aposentadorias. O orçamento discricionário, que envolve o funcionamento diário (custeio) e o investimento de capital, já é insuficiente diante dos cortes realizados no primeiro semestre deste ano. O projeto ora analisado não apresenta alternativas para a questão dos gastos obrigatórios. Ele traz ideias já contempladas na legislação para ampliação de arrecadação específica (que tende a ser pontual, sazonal e residual em muitos casos) e ainda retira das IFES a titularidade para gerir esses recursos ao propor os contratos compulsórios com Organizações Sociais.

A reforma da previdência e o fato dos novos servidores públicos (ingresso pós 2013) terem seu regime vinculado ao teto do INSS trazem boas notícias para as contas públicas no médio e longo prazo. Uma reforma administrativa também é importante para atacar os gastos obrigatórios. Sobre as despesas discricionárias, a prioridade deveria ser a garantia do orçamento público para que as IFES cumpram suas funções previstas em lei. Vivemos uma crise aguda e lenta recuperação da atividade econômica nos últimos anos, e a arrecadação espelha esse cenário. Remodelar o sistema de ensino superior no Brasil (que já é majoritariamente privado) em tal conjuntura não parece oportuno.

Do ponto de vista político, o projeto é marcado por duas características presentes desde o início do ano na gestão do MEC: a improvisação e a falta de diálogo. Identifica-se a improvisação no desconhecimento, por parte de quem elaborou o projeto, sobre aspectos legais e detalhes do funcionamento do sistema federal de ensino superior. A falta de diálogo fica evidente na medida em que reitores, comunidade acadêmica, entidades representativas dos docentes e técnicos administrativos nunca foram consultadas(os) para participar da elaboração do programa, o que denota uma condução unilateral do ministério da Educação.

É necessário que as IFES aprimorem a captação de recursos próprios e ampliem as parcerias com diferentes setores da sociedade civil. É fundamental desburocratizar a execução de recursos de projetos de pesquisa e qualificar a operacionalidade das Fundações de Apoio. Ajustes legais e programas de metas poderiam fomentar essas mudanças desejadas sem que as instituições fossem descaracterizadas, sem que servidores e gestores públicos tivessem seu fazer desprestigiado.

Não parece haver justificativa técnica para a criação de Organizações Sociais e nem para a contratação por parte das IFES. Nada indica que o custeio das IFES possa vir de recursos oriundos de parcerias, elas são sempre bem-vindas em caráter complementar, mas não faz parte da cultura empresarial brasileira a priorização do investimento em ciência, inovação e educação. A manutenção das instituições públicas que produzem ciência básica deve ser feita majoritariamente com recursos públicos, como ocorre nos países desenvolvidos.


Gregório Grisa é professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul. Doutor e mestre em educação e pós-doutor em sociologia pela UFRGS. Pesquisador ligado ao grupo de pesquisa Educação, Experiências Docentes e Direitos Humanos do IFRS, ao grupo Inovação e Avaliação na Universidade da UFRGS (Inovaval) e ao Grupo de Estudos sobre Universidade da UFRGS (GEU).

Fonte: El País


6 de janeiro de 2019

Aluno de Olavo de Carvalho é novo coordenador do Enem




Murilo Resende Ferreira, 36, é doutor em economia pela FGV e professor universitário em Goiânia. E agora, por indicação do novo ministro da Educação, é também diretor de Avaliação Básica do Inep, responsável pelo Enem e pelo Saeb.

Não se sabe até que ponto sua formação acadêmica deve ser levada em consideração, já que, segundo ele mesmo, sua educação “foi ineficiente” por conta de professores que faziam “doutrinação política explícita”. O que sabemos é que Murilo, saudado como um dos “talentos” da tal “nova direita”, é aluno do curso online de Filosofia (?) de Olavo de Carvalho desde 2009, que ele afirma ter sido o “ponto central no seu amadurecimento intelectual”. Nesse curso ele aprendeu, certamente entre muitas coisas mais, que “todas as ideologias mortíferas da modernidade (?) remontavam a antigas heresias cristãs”.

Uma das implicações dessa descoberta na sua gestão deve ser o combate ao que o presidente da República chamou, via Twitter, de “lacração”. No ano passado, o texto do Enem foi alvo de críticas de Bolsonaro, que o considerou um “vexame” e de uma “doutrinação exacerbada”. Quem mandou apresentarem como exemplo de dialeto logo o pajubá? O emprego de um termo derivado de línguas africanas, relacionado ao universo LGBT, e ainda com essa cara de palavra indígena, não podia mesmo dar em boa coisa

Preciso dizer que Murilo é defensor dos princípios da “Escola sem Partido”? E alguma dúvida de que esse projeto vai voltar a ser discutido na Câmara?





Nota: Seguindo a prática mais constante do governo até o momento, a nomeação do diretor foi suspensa nessa quinta-feira (17). Esperamos que ele não volte atrás em sua decisão de voltar atrás.

11 de junho de 2017

Para cumprir lei, Alckmin inclui até aposentadoria em gasto de educação



O Estado de São Paulo, atualmente sob o comando do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e há 21 anos nas mãos dos tucanos, calcula como gasto mínimo constitucional em educação valores que, na prática, não chegam às atividades educacionais.
Em uma manobra alvo de questionamentos, o governo tem colocado nessa conta o pagamento de aposentados. Essa operação representou, só nos últimos três anos, cerca de R$ 13 bilhões –perto de metade do orçamento anual da Secretaria de Educação.
Só no ano passado, R$ 5,1 bilhões declarados como investimentos em educação são, na prática, repasses para aposentadorias.
A manobra entrou na mira do Ministério Público de Contas, órgão ligado ao TCE (Tribunal de Contas do Estado). O próprio TCE deve apontar correções na análise de contas do governador de 2016 por causa desse procedimento.
Em outra frente, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ingressou na segunda-feira (5) com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra uma lei paulista, de 2007, que permite a inclusão de inativos no cálculo de gasto mínimo com educação.
A Constituição paulista exige que 30% das receitas sejam investidos na manutenção e desenvolvimento do ensino. Só levando em conta as aposentadorias, porém, é que o governo alcança o índice.
O governo Alckmin diz que gastou 31% das receitas com educação em 2016. O percentual cai para 25% ao descontar o gasto com aposentados.
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Entenda a manobra
O que diz a lei
A Constituição paulista exige que ao menos 30% das receitas do Estado sejam aplicadas em educação
Medida
Para alcançar os 30%, o governo inclui aposentadorias ligadas à educação como "manutenção e desenvolvimento" do setor
O que diz o governo
Uma outra lei permite a medida, e o TCE tem aprovado as contas. Porém o Ministério Público de Contas questiona a manobra e a PGR, a lei no STF

Gastos considerados como educação pelo governo

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GASTO DIRETO
Ações de assistência estudantil e até merenda, por exemplo, não entram na conta porque não têm relação direta com o ensino. O governo pode incluir os recursos do ensino superior, mas a etapa definida como prioridade do Estado é o ensino médio.
Ao excluir o orçamento das universidades estaduais, a educação básica recebe 19% da receita total: R$ 21 bilhões.
A Constituição federal fala em reservar 25% das receitas para a educação. Para a procuradora Elida Graziane, do MP de Contas, Alckmin deve atender ao texto paulista –que prevê meta de 30%.
"Com as dificuldades na educação básica, o Estado não poderia se dar ao luxo de não aplicar o que se exige."
O Estado registra 223 mil jovens de 15 a 17 anos fora da escola (12% do total dessa faixa etária). Os indicadores de qualidade, tanto Ideb (federal) quanto Idesp (estadual), têm resultados nos anos finais do fundamental e no ensino médio estagnados em níveis baixos. Só nos anos iniciais há ritmo de melhora.
A rede de SP tem só 6% dos alunos de ensino médio em tempo integral. O Plano Nacional de Educação estipula 25% até 2024. Os docentes da rede não recebem reajuste do piso salarial desde 2014.
Membro do Conselho Nacional de Educação, Cesar Callegari presidiu CPI na Assembleia entre 1999 e 2000 cujo relatório já apontava a distorção. "Mas o governo sempre manteve a manobra, com o respaldo do TCE."
Priscila Cruz, do Todos pela Educação, diz que, pelo potencial econômico de São Paulo, os resultados deveriam ser melhores. "O fato de um Estado fazer isso há tantos anos mostra sua real falta de compromisso com a educação."
Os R$ 5,1 bilhões declarados em educação em 2016, mas não investidos na área, seriam suficientes para viabilizar 27 mil turmas. Financiaria ainda o transporte escolar na rede por cinco anos.
Em defesa da medida, o governo diz que suas contas têm sido aprovadas pelo TCE. O conselheiro Roque Citadini, relator das contas de 2016, adiantou que o tribunal não deve permitir mais isso.
"Os gastos com inativos não devem ser computados como educação, o Estado deve retira-lo da conta", diz Citadini. O relatório do TCE vai sugerir uma ressalva nas contas, indicando correção no próximo orçamento, de 2018.
O conselheiro exigirá o atendimento ao piso federal, de 25%. Segundo ele, a baixa transparência nas contas dificulta concluir se ao menos os 25% têm sido respeitados.

"LEGAL E TRANSPARENTE"
Para o governo Geraldo Alckmin (PSDB), considerar gastos com inativos no cálculo do investimento mínimo em educação é uma medida "legal e transparente".
A gestão defende que se respalda em lei de 2007 e que "sempre teve o aval do Tribunal de Contas do Estado".
Em 2007, o governo incluiu na lei que criou a SPPREV, entidade gestora da previdência dos servidores, um artigo que autoriza a manobra.
Segundo o governo, os repasses da Secretaria de Estado de Educação para a SPPREV têm "o objetivo de honrar o pagamento da aposentadoria aos inativos".
A proporção dos gastos de educação transferidos para pensionistas tem aumentado. Representava 3,7% do total de receitas em 2014. No ano passado, esse percentual foi de 4,6%. São Paulo registra 183 mil inativos da educação.
O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, questionou o dispositivo da lei paulista de 2007 em ação no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta semana. Na avaliação da procuradoria, esse trecho da lei é inconstitucional.
A Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo diz não ter tido acesso formal à ação e, por isso, não a comentaria.
A pasta de Planejamento argumenta que os gastos totais com a "função" Educação chegaram a R$ 41,3 bilhões em 2016. Esses valores envolvem outros gastos não identificados apenas como "manutenção e desenvolvimento" do ensino e que também não fazem necessariamente parte do orçamento da secretaria de Educação.
O orçamento executado pela secretaria de Educação em 2016 foi de R$ 28,7 bilhões. Representa um recuo de 3% com relação a 2015 (considerando valores atualizados pela inflação). Houve recuo de 6,5% da receita total do Estado de São Paulo no período.
A pasta afirma que os resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) avançaram em 2015 -na prática, com exceção dos anos iniciais, o comportamento é de estagnação nos anos finais do fundamental e no ensino médio. Ressaltou que alfabetiza 98,7% das crianças até o 2º ano.
De acordo com a secretaria, a pasta "trabalha diariamente para cumprir o que prevê o Plano Nacional e Estadual de Educação".
A ampliação das escolas de tempo integral é constante, afirma a pasta, atingindo 544 escolas. A rede estadual tem 5,3 mil unidades.
Sobre os jovens de 15 a 17 anos fora da escola, ela afirma que tem 600 mil vagas no sistema que podem ser ocupadas. "São Paulo mantém as menores taxas de abandono escolar do país", diz a secretaria.

OUTROS ESTADOS
A inclusão de aposentados no gasto mínimo com educação já foi questionada em outros Estados do país, como Minas Gerais, Paraíba, Espírito Santo e Rio Grande do Norte -seja por tribunais de contas ou pelo Ministério Público.
Interpretações da legislação dão margem à manobra. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), de 1996, descreve o que é "manutenção e desenvolvimento" da educação. Não inclui os aposentados, embora seja omissa em citar a exclusão.
Manuais de prestação de contas do MEC são claros em excluir inativos. Atos do Conselho Estadual de São Paulo vão na mesma linha.
"Existem divergências e interpretações possíveis. Só o STF tem competência para dar a orientação definitiva", diz Carlos Ari Sunfeld, professor de Direito Constitucional da FGV-SP.

João Batista de Oliveira, do Instituto Alfa e Beto, afirma que o debate sobre financiamento precisa se intensificar. "Tudo que amarra recurso tende a ser ineficiente. O Brasil tem de discutir vinculações e levar em conta outras variáveis, como a demografia [quantidade de crianças vem diminuindo]", defende. 

31 de julho de 2016

Em defesa da liberdade de expressão em sala de aula


Por Fernando de Araujo Penna


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Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Constituição Federal de 1988)



A escola democrática encontra-se sob múltiplos ataques. Um dos mais graves é o Programa Escola Sem Partido, que o PL 867/2015 pretende incluir entre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Este projeto sintetiza as propostas do movimento homônimo, que defende que professores não são educadores, mas apenas instrutores que devem limitar-se a transmitir a “matéria objeto da disciplina” sem discutir valores e a realidade do aluno. Ainda segundo eles, a escola estaria usurpando uma atribuição da família. Nossa Constituição Federal é inequívoca ao afirmar que a educação é dever do Estado e da família com a colaboração da sociedade – uma tarefa compartilhada, portanto, e não exclusiva. O mesmo movimento insiste que “formar cidadãos” é “uma expressão que na prática se traduz, como todos sabem, por fazer a cabeça dos alunos” e que os professores que elegem esta tarefa como uma das principais missões da escola estão dando uma prova da “doutrinação política e ideológica em sala de aula”. Nossa constituição é igualmente cristalina ao estabelecer os objetivos da educação e o “preparo para o exercício da cidadania” é um deles. Sendo assim, quando um professor afirma que uma das principais missões da escola é formar para a cidadania, ele está apenas reafirmando elementos da nossa constituição. Professores ensinam a matéria objeto da disciplina visando alcançar os três objetivos expostos na nossa constituição e não apenas a qualificação para o trabalho. Mas como visar o pleno desenvolvimento da pessoa sem discutir valores? Como preparar para o exercício da cidadania sem dialogar com a realidade do aluno? Por isso somos contra o Programa Escola Sem Partido.

Os criadores do Programa Escola Sem Partido insistem que o projeto de lei apenas garante direitos constitucionais já estabelecidos e sua única inovação seria a proposta da afixação de um cartaz com os “deveres do professor” em todas as salas de aula das escolas brasileiras. Esta afirmativa apresenta dois gravíssimos equívocos. Primeiro, o cartaz deveria ser intitulado “proibições do professor”, porque é constituído por uma lista de atividades que o professor não deveria realizar em sala de aula. Elas são descritas de maneira tendenciosa, de forma a desqualificar atividades docentes cotidianas, e associando-as a práticas realmente condenáveis. Um exemplo: “O Professor não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas”. O professor realmente não deve fazer propaganda político-partidária em sala de aula, o que não equivale a dizer que não é indicado que se discuta questões políticas contemporâneas em sala de aula – pelo contrário! O professor não deve se furtar a discutir as temáticas pertinentes à interpretação da realidade na qual os alunos estão inseridos. A segunda parte da proibição é formulada de maneira especialmente tendenciosa, de maneira a desqualificar uma prática salutar para a educação. “O professor não (…) incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas”. O professor deve sim estimular seus alunos a se manifestarem de todas as maneiras democráticas no espaço público! Participar de manifestações democráticas é sinal de que o aluno se sente apto a mudar o mundo no qual ele está inserido – uma capacidade essencial na sua preparação para o exercício de uma cidadania ativa.

O PL 867/2015, assim como todas as suas variações estaduais e municipais, não se limita a garantir direitos constitucionais já estabelecidos, ele tenta estabelecer uma interpretação equivocada da nossa constituição, amputando intencionalmente dispositivos constitucionais com base em uma concepção absolutamente deturpada do que seria o processo de escolarização. O projeto de lei em questão se arvora a definir os princípios que devem orientar a educação nacional, omitindo o fato de que estes já são definidos na nossa Constituição Federal e reafirmados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O que percebemos ao comparar os princípios propostos pelo PL com aqueles estabelecidos pela constituição é que o projeto amputa maliciosamente os dispositivos constitucionais: “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas” (Art. 206, III) reduz-se a “pluralismo de ideias no ambiente acadêmico” (Art. 2, II) e “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber” (Art. 206, II) reduz-se a “liberdade de aprender, como projeção específica, no campo da educação, da liberdade de consciência” (Art. 2, III). Podemos perceber que os elementos excluídos são todos relacionados à figura do professor: o pluralismo de concepções pedagógicas e a liberdade de ensinar. No entanto, o projeto não para por aí, chega ao extremo de afirmar, na sua justificação, que “não existe liberdade de expressão no exercício estrito da atividade docente”.

Nos opomos veementemente a esta tentativa de excluir todos dispositivos constitucionais que garantem as atribuições do professor em sala de aula e, mais do que isso, retirar dos docentes seu direito constitucional à liberdade de expressão no exercício da sua atividade profissional. Nenhum cidadão brasileiro em qualquer situação deve ser privado da sua liberdade de expressão! Todos devem, em todos os momentos, respeitar os limites impostos pelas leis à sua liberdade de fala sem nunca abrir mão dela. O professor obviamente tem um programa a seguir, mas como ele fará isso – recorrendo a qualquer concepção pedagógica válida e relacionando a matéria com as temáticas que julgar pertinentes – depende apenas dos seus saberes profissionais. Devemos confiar nos saberes profissionais docentes, formados em cursos reconhecidos pelo MEC para desempenhar sua função de professor e educador. Em defesa à liberdade de expressão dos professores no exercício da sua atividade profissional, dizemos não ao Programa Escola Sem Partido!

Prof. Dr. Fernando de Araujo Penna (Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense)
Movimento Professores contra o Escola Sem Partido

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22 de junho de 2016

Escola sem Partido ou Escola sem Educação?

Palestra com o Prof. Dr. Fernando Penna, realizada na UFF em 26 de janeiro como parte do ciclo Encontros 2016, promovido pela PROGRAD e pela Divisão de Prática Discente











27 de janeiro de 2016

Novo secretário de Educação de SP é o desembargador que defendeu auxílio moradia para comprar “terno em Miami”

Por Raoni de Assis Marques

presidentetribunal

Quando você acha que já viu de tudo, vem outra notícia que deixa você perplexo. Então veja essa. Você sabe quem é o novo secretário de educação do estado de São Paulo?

O escolhido de Alckmin (PSDB) é José Renato Nalini, que até recentemente era presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. O desembargador Nalini ficou nacionalmente conhecido após dar uma entrevista, no mínimo, infeliz, em que defendeu o auxílio moradia para Juízes (o valor é superior a R$ 4 mil reais e não há a necessidade de comprovação do gasto com moradia).

“Aparentemente o juiz brasileiro ganha bem, mas ele tem 27% de desconto de imposto de renda, ele tem que pagar plano de saúde, ele tem que comprar terno e não dá para ir toda hora a Miami comprar terno” disse Nalini em entrevista para a televisão.

Em outro trecho, o atual secretário de educação de São Paulo defendeu o auxílio moradia para juízes dessa forma: “O auxílio moradia foi um disfarce pra aumentar um pouquinho… e até para fazer com que o Juiz fique um pouco mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC e etc”.

Se Nalini for usar essa sua lógica para os professores do estado de São Paulo, estes podem até comemorar. Porque o desembargador vai se surpreender com a quantidade de professores que estão com depressão, síndrome de pânico e outras doenças relativas ao seu trabalho e a falta de valorização dele. Então, se é assim, que venha o auxílio moradia para professores com valor superior a R$ 4 mil reais.



14 de dezembro de 2015

A lição dada pelos nossos alunos

por José Antonio Lages*

Escola Otoniel Mota ocupada. Foto: Mastrângelo Reino

A política de reorganização das escolas estaduais empreendida pelo governador Geraldo Alckmin acaba de sofrer uma fragorosa derrota. O governador e seu partido, acostumados à política de mando, colocavam em prática mais uma vez decisões sem consulta pública prévia, principalmente aos diretamente atingidos por elas. Muito simples seria convocar pais, professores, alunos e funcionários para atender a um dos princípios básicos da Constituição: a participação democrática. Mas não. A reorganização foi apresentada com força de lei, os apelos de discussão desdenhados, os argumentos dos próprios alunos e suas famílias, dos educadores, professores e especialistas em educação foram desqualificados.

Devemos sempre fazer a leitura pedagógica das decisões públicas. Estas nos ensinam a participar, argumentar e aceitar a solução alcançada, porque nos reconhecemos no processo que a construiu. O que vemos hoje na grande maioria dos políticos é uma mentalidade de síndico profissional. O que acaba reduzindo o processo político a uma cascata de operações jurídicas, administrativas e policiais. Obviamente, a lição passada por estes senhores é a pior possível. Eles querem nos ensinar, sem mais o conseguirem, que o poder se exerce a partir da autoridade e na ausência de vergonha. Querem que aprendamos assim, como nos informa Christian Dunker, em um artigo seu recente, que “diante de qualquer problema social, basta culpar a educação, mas, na hora de pagar pelo serviço, basta chamar a polícia”.

Vale a pena aqui destrinchar a visão que predomina nesta reorganização proposta pelo governo paulista. O objetivo fundamental nunca foi mais qualidade de ensino ou elaboração de meios que facilitem o aprendizado, como foi fartamente alegado. Pelo contrário, a reorganização pretendida acarreta indagações e incertezas sobre o funcionamento da instituição escolar.

Para fornecer elementos para uma análise dessa realidade, Michel Foucault se apresenta como principal referência teórica, possibilitando a compreensão das relações presentes no cotidiano escolar. Nas relações de poder contidas nesse ambiente, sobre as quais se alicerça a política de educação do Estado, o “poder disciplinar” demonstra toda a sua eficácia. Os mecanismos componentes desse poder são os responsáveis pela afirmação de um sistema punitivo que move toda a engrenagem educacional. A mesma linha de disciplina presente nos hospitais e prisões para Foucault. Aquele sistema punitivo se manifestou com toda a crueza com as intimidações, ameaças, tentativas de criminalização do movimento, repressão policial e até prisões de manifestantes.

A reação dos alunos não poderia ter sido mais exemplar. Contra a reorganização geral das escolas levada a cabo por gestores profissionais, a chamada geral para que os alunos tomassem posse efetiva de um equipamento que pertence a eles por direito foi um gesto pleno de autoridade. Estes alunos estão nos ensinando que é preciso tornar a escola o centro do debate. Eles estão nos indicando o caminho de retorno ao espaço público e da apropriação de nossos bens simbólicos. A educação pode desenvolver a lucidez e a descentração, fazer duvidar, fazer refletir, perturbar nossa tranquilidade. A escola é o lugar privilegiado para esta confrontação, como dizia o grande pensador protestante francês Paul Ricoeur.

São de amplo conhecimento os verdadeiros objetivos da reorganização escolar do Sr. Alckmin: separação de ciclos, enxugamento das turmas superlotando as salas de aula e desempregando professores, redução de despesas, preparação de uma estrutura para dar sequência à municipalização “branca” e mesmo à privatização do ensino público, como o mesmo partido do governador já está fazendo em Goiás. Sabemos como se criam métricas para resultados “maquiados”, porém tivemos que esperar nossos alunos tomarem o lugar de professores para sairmos desse saber sem consequência.

A partir da experiência e dos problemas concretos vivenciados, com a contribuição ou não de seus professores, com o apoio de outros movimentos sociais, por tudo isso nossos alunos nos deram uma verdadeira aula de cidadania! Esperamos que daqui a pouco todas as escolas deste país, privadas e públicas, possam ser realmente ocupadas, não por “alunos-números ou carne intelectual processada, mas por gente capaz de escrever os caminhos de seu próprio saber”, como disse Christian Dunker no mesmo artigo de que já falamos.

Entenda:

Ocupação Otoniel Mota, em Ribeirão, termina nesta segunda (14/12), aos 14 dias, depois de conseguir garantias de que o governo estadual não efetivará mudanças no próximo ano letivo. Leia carta dos estudantes:

"Nós, alunos que ocupamos o Otoniel Mota em luta pelo fim da reorganização escolar e por nítidas melhorias na educação do Estado, vimos publicamente e por páginas particulares para maior visibilidade, informar que a nossa ocupação está encerrada a partir do dia 14/12/2015. Informamos também que, entretanto, não estamos distantes da luta educacional, ao contrário, nossa desocupação ocorre em virtude da preocupação com demais aspectos da vida escolar em questão. Quanto ao horário de funcionamento da unidade, caberá à gestão escolar comunicar à comunidade.
Formamos um grupo consciente e convicto. Continuaremos mobilizados em busca de objetivos para a melhoria da educação."



José Antonio Lages é graduado em Filosofia, História e Pedagogia, mestre em História e doutorando em Ciências da Religião. Professor da rede municipal e pesquisador da história de Ribeirã Preto, fez parte do Conselho Municipal de Cultura e do Conselho Municipal de Patrimônio. 


25 de novembro de 2015

Carta de repúdio à "reestruturação" escolar

A Unicamp, a USP e a Unifesp já divulgaram notas de repúdio à assim chamada "reestruturação escolar" do Alckmista (que transforma ouro em... chumbo, digamos). Depois de mais de cem escolas ocupadas (e com pedido de reintegração de posse negado pelo Tribunal de Justiça do Estado), é a vez de a Unesp (ou de uma parte dela) se pronunciar. Unesp cujo reitor de 2009 a 2010 foi ninguém menos que esse que atende pelo medievalesco nome de Prof. Dr. Herman Jacobus Cornelis Voorwald (isso sim é que é nome de alquimista que se preze!).


Segue-se a íntegra da CARTA DE REPÚDIO DOS DISCENTES E DOCENTES DO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E LÍNGUA PORTUGUESA DA UNESP/ARARAQUARA À REESTRUTURAÇÃO ESCOLAR

Nós, docentes e discentes, abaixo-assinados, do Programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara, profundamente inseridos no contexto educacional e responsáveis por formar profissionais que atuarão em todos os níveis de ensino, lançamos a seguinte carta de repúdio à medida imposta pelo governo estadual de reestruturação escolar que visa a separação de cada um dos três ciclos, que são o Ensino Médio, o Fundamental I (1° ao 5° ano) e o Fundamental II (6° ao 9°ano), em escolas diferentes.

Tal reestruturação, já programada para o ano letivo de 2016, terá impacto imediato na educação escolar, uma vez que promoverá o fechamento confirmado de centenas de salas de aula e de 94 escolas, eliminando, desse modo, cerca de 2 milhões de vagas “excedentes”, sem modificar o número absurdo de cerca de 40 estudantes por sala de aula e a alta jornada de trabalho dos professores. A precarização da educação, a partir de uma reestruturação, não é novidade do governo paulista. Desde 1995, na gestão de Mário Covas, deu-se início à divisão das escolas estaduais por ciclos de Fundamental I e Fundamental II, o que efetivou o fechamento de 864 escolas e acarretou a municipalização de centenas delas.

De vinte anos para cá, o que se vê é a continuidade desse modo negligente e autoritário de governar que bloqueia o diálogo com os professores, pais e estudantes. Sem acordo, após a maior greve de professores já vista no Estado de São Paulo, de 92 dias, o secretário da educação Hermann Voorwald anunciou, sorrateiramente, pela imprensa, essas mudanças no ensino já para o próximo ano letivo, sem consultar, em nenhum momento, qualquer membro da comunidade escolar. O discurso da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo elenca uma série de aspectos que justificariam a “reorganização” escolar, tais como queda na taxa de natalidade ao longo dos anos, fechamento de escolas com supostos índices baixos no IDESP, a suposta melhoria de foco e aprendizagem pela divisão por ciclos.

No entanto, esses argumentos podem ser facilmente refutados, pois o fechamento de salas de aula e de escolas inteiras vai ao encontro, obrigatoriamente, a uma piora do ensino, já que isso acarretará em uma maior superlotação das salas de aula, reduzirá a oferta do ensino noturno e do EJA, ocasionará progressivo índice de desemprego das carreiras relacionadas à gestão escolar como professores, diretores, coordenadores, agentes escolares e, ainda, desemprego entre trabalhadores da merenda e da limpeza.
Caso a finalidade do governo estadual fosse promover melhorias no ensino, aproveitaria espaços ociosos, que o mesmo diz haver, para diminuir o número de estudantes por salas, investiria na infraestrutura dos prédios já existentes, forneceria subsídios básicos como materiais de higiene e limpeza que faltam, muitas vezes, nas unidades de ensino. Dessa forma, fica claro que a real intenção do governo paulista é, meramente, o “corte de gastos” na educação estadual.

Outra problemática envolve a reificação dos estudantes das escolas públicas que são tratados como números. O governador ignora que eles são sujeitos sócio-históricos e que pertencem, portanto, a contextos não neutros e distintos de moradia, família, condições financeiras etc. Para exemplificar, expomos o caso das escolas de Américo Brasiliense, E.E. Profa. Alzira Dias de Toledo Piza e E.E. Dinorá Marcondes Gomes, pertencentes a bairros rivais. Desse modo, os estudantes, para continuarem estudando, enfrentarão um clima de tensão e medo. Para o governador, não é indicado misturar estudantes de idades diferentes, mas colocá-los em perigo não é um problema. Isso derrota com veemência a ideia de que as crianças nas escolas de ciclo único “se sentem mais acolhidas e seguras”.

Além disso, a reestruturação não considera a rotina dos pais, o vínculo afetivo estabelecido entre o estudante e a comunidade escolar, o acesso ao transporte público, o relevo geográfico da região e a periculosidade do trajeto moradia-escola. Temos como exemplo, em Araraquara, a E.E. Augusto da Silva César e a E.E. João Pires de Camargo cujos estudantes realocados deverão atravessar vias de trânsito rápido como a Av. Domingos Zanin e a Via Expressa, que separam as escolas.

Sobre a relação entre a reestruturação escolar e o nosso programa de pós-graduação

Em um programa de pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa, presume-se a formação de mestres e doutores e, com isso, a formação de professores para atuar em diferentes instituições de ensino, abarcando do ensino básico à pós-graduação.

Assim, grande parte dos professores-pesquisadores do nosso Programa estarão aptos a formar novos professores. Essa atividade, contudo, está ameaçada pelos constantes ataques do governo do estado de São Paulo a todas as instâncias da educação pública. No ensino público superior, as ofensivas vêm ocorrendo nos últimos meses concomitantemente à reestruturação. Além da suspensão da contratação de docentes efetivos, em setembro deste ano, foi divulgada não só a reestruturação escolar, mas também a reestruturação da graduação na Unesp que redefinirá a computação dos créditos. Na prática, isso significa a redução da função mediadora do docente e incentiva, cada vez mais, a diminuição de concursos públicos para cargos efetivos . Observa-se que a gestão tucana vem tomando iniciativas para precarizar o sistema público educacional, para futuramente apresentar, como única solução, a privatização e a terceirização, como já está em processo em Goiás . Essa medida, que começa com a reestruturação do ensino básico, contra a qual estamos lutando, alcança, simultaneamente, a universidade pública. Ou seja, embora o ataque à educação pareça, nesse momento, apenas afetar a educação básica, esse é o início de um projeto muito maior: fazer com que a educação pública como um todo sirva a critérios meramente econômicos. Desse modo, nossas carreiras estarão ameaçadas pois, como é sabido, as universidades particulares, em sua maioria, não estão interessadas em contratar doutores para compor seu corpo docente, aliás, algumas dispensam, inclusive, o título de mestre. Não é interessante, para uma instituição que visa o lucro, manter, em seu quadro de gastos, doutores.

Sobre a reestruturação do ensino público, nos perguntamos: estamos formando mestres e doutores para quê? Para quem? Isso posto, nós, abaixo-assinados, docentes e discentes do PPGLLP da Unesp Araraquara, nos solidarizamos com gestores, estudantes, funcionários, pais e professores e todos aqueles que vão às ruas em defesa da escola pública. Essa luta tem o nosso total apoio.




Adriana Afonsina Silva de Oliveira Discente
Adriana Celia Alves Discente
Adriel G Silva Discente
Alessandra Del Ré Docente
Alessandra Jacqueline Vieira Discente
Ana Cristina Biondo Salomao Docente
André Luiz Machado Discente
Angelica Rodrigues Docente
Anna Carolina Saduckis Mroczinski Discente
Bárbara Melissa Santana Discente
Bruno Vituzzo Matheus Discente
Camila Cristina de Oliveira Alves Discente
Carlos Eduardo da Silva Ferreira Discente
Carolina Gonçalves da Silva Discente
Carolina Moya Fiorelli Discente
Caroline Costa Lima Discente
Cássia Regina Coutinho Sossolote Docente
Catharine Piai de Mattos Discente
Cibele Cecilio de Faria Rozenfeld Docente
Cinthia Yuri Galelli Discente
Dacyo Cavalcante Fernandes Discente
Eneida Gomes Nalini de Oliveira Discente
Flávia de Freitas Berto Discente
Gisela Sequini Favaro Discente
Gislene da Silva Discente Discente
Heloísa Bacchi Zanchetta Discente
Jessica Chagas de Almeida Discente
Jessica de Castro Gonçalves Discente
Jéssyca Camargo Da Cruz Discente
José Cezinaldo Rocha Bessa Discente
José Radamés Benevides de Melo Discente
Júlia Batista Alves Discente
Juliana Simões Fonte Discente
Juliane de Araujo Gonzaga Discente
Karolinne Finamor Couto Discente
Leonardo Arctico Santana Discente
Leticia Cordeiro de Oliveira Bueno Discente
Levi Henrique Merenciano Discente
Lígia Egídia Moscardini Discente
Lilian Maria Marques E Silva Discente
Luciane de Paula Docente
Luiza Bedê Barbosa Discente
Marcela Barchi Paglione Discente
Maria do Rosario Gregolin Docente
Maria Teresa Silva Biajoti Discente
Mariana Daré Vargas Discente
Marina Rosa Severian Discente
Michel Ferreira dos Reis Discente
Nildiceia Aparecida Rocha Docente
Patricia Bomtorin Discente
Patricia Veronica Moreira Discente
Priscila Florentino De Melo Merenciano Discente
Rafaela Giacomin Bueno Discente
Renan Mazzola Discente
Renata Grangel da Silva Discente
Sabrina Rodrigues Garcia Balsalobre Discente
Tatiele Novais Silva Discente
Thiago Ferreira da Silva Discente
Victor Hugo Cruz Caparica Discente
Yuri Araújo de Mello Discente


Fonte: UOL Educação 




10 de julho de 2015

A verdade vem à tona: Alckmin inflou dado sobre salário de professor

Por FÁBIO TAKAHASHI

Folha de São Paulo


O governador Geraldo Alckmin (PSDB) inflou dados sobre salários dos professores da rede estadual paulista em meio à maior greve da categoria, que durou 89 dias e atingiu parcialmente a rede até o mês passado.

O tucano dizia que a paralisação não fazia sentido, pois, segundo ele, os professores tinham recebido reajuste de 45% ao longo do seu mandato anterior (2011-2014).

Na realidade, professores da ativa da rede estadual tiveram 12,3% de aumento no valor que recebem mensalmente, descontada inflação.

O detalhamento do reajuste foi informado pelo governo do PSDB à Folhasomente no fim do mês passado, após o governo ser acionado via Lei de Acesso à Informação.

A reportagem cobrava a Secretaria de Educação desde abril. O prazo para resposta chegou a vencer, e as informações foram encaminhadas só após o fim da paralisação.

Até então, o governo não informava quanto dos 45% de reajuste se referia à incorporação de gratificações.



A incorporação significa que o valor que o professor recebia como um extra passou a ser pago no salário-base.

É uma medida que beneficia os aposentados, que não recebem gratificações. Por outro lado, não contempla na mesma proporção os profissionais da ativa, que já recebiam o dinheiro mensalmente. Para eles, a maior vantagem da medida vem do fato de alguns benefícios serem calculados pelo salário-base.

Segundo os dados informados agora pelo governo, o salário-base aumentou 11,2% com a incorporação das gratificações. Como a inflação no mandato anterior de Alckmin (2011 a 2014) ficou em 21,5%, (IPC-Fipe), o ganho real da remuneração mensal dos docentes ativos foi de 12,3% durante esse período da gestão.

Esse ganho real cai para 5,3% se considerada também a inflação dos cinco primeiros meses deste ano.

governo analisa uma política salarial para os professores, que saíram da greve sem proposta concreta de aumento. Durante a paralisação, o reajuste já concedido foi um dos pontos de embate entre a Apeoesp (sindicato dos docentes) e o governo.

O sindicato dizia que os 45% não eram reais, considerando inflação e gratificações já existentes. Ao longo da greve, o governador passou a ponderar que, de fato, parte do ganho real havia sido anulado pela inflação, mas não citava as incorporações.

OUTRO LADO

Procurado, o Palácio dos Bandeirantes disse que os esclarecimentos sobre adivulgação dos salários inflados dos professores estaduais deveriam ser feitos pela Secretaria de Educação. A pasta ressaltou que vantagens dadas aos professores da ativa são calculadas a partir do salário-base.

Em nota, o órgão diz ser "inacreditável que a reportagem da Folha conclua, sabe-se lá como, que a incorporação de gratificações historicamente pleiteada pela categoria não beneficie diretamente profissionais da ativa".

O salário-base, diz, "repercute no aumento de benefícios como valorização por especialização e mérito, adicional por tempo de serviço e sexta-parte". Não foi informado, porém, qual o impacto do reajuste do salário-base na remuneração mensal do docente.

"O fato", diz a secretaria, é que o salário-base teve "aumento de 45% nominal e 21% real [descontada a inflação]".


O governo diz que "foi transparente e divulgou incorporações quando ocorridas". A pasta, porém, não havia detalhado até mês passado quanto dos 45% de reajuste proviam da incorporação. E não informou por que demorou dois meses para responder a solicitação da Folha sobre o tema.

24 de setembro de 2014

Entender ciências é exceção no Brasil, mostra pesquisa

Segundo Instituto Abramundo, metade dos chefes não entende sequer gráficos um pouco mais complexos, por exemplo. Só 5% dos brasileiros conseguem aplicar a ciência no dia-a-dia


São Paulo – De cada 100 brasileiros que têm pelo menos até a quarta-série, apenas 5 são capazes de aplicar conhecimentos de ciências em atividades simples do cotidiano – como calcular a potência de um chuveiro, por exemplo, segundo levantamento do Instituto Abramundo. 

O Instituto chegou a essa conclusão após analisar o desempenho de cerca de 2 mil pessoas com idade entre 15 e 40 anos que tinham até a quarta série diante de situações cotidianas que envolviam o domínio de conceitos científicos.

O desempenho foi medido de acordo com o Índice de Letramento Científico, desenvolvido pela Abramundo em parceria com o Ibope Inteligência.

Veja qual foi o desempenho dos entrevistados na escala desenvolvida pelo instituto.

Básico
O que consegue fazer? Compreende informações apresentadas de maneira clara (e explícita) em contextos já conhecidos. No fim das contas, não usa conceitos científicos para entender o mundo.

Quantos estão neste grupo? 16% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 29% estavam neste grupo. No ensino médio, eram 14%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 4% eram deste nível.

Rudimentar
O que consegue fazer? É capaz de localizar informações em diversos formatos de textos e reconhecer termos científicos simples, mas não consegue resolver problemas ou interpretar informações científicas. 

Quantos estão neste grupo? 48% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 50% estavam neste grupo. Do ensino médio, eram 52%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 37% eram deste nível.

Intermediário
O que consegue fazer? É capaz de entender gráficos, tabelas, esquemas e textos mais complexos, além de conseguir resolver problemas que demandam a aplicação de conceitos científicos básicos. Mas não conseguem solucionar problemas mais complexos. 

Quantos estão neste grupo? 31% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 20% estavam neste grupo. Do ensino médio, eram 29%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 48% eram deste nível.

Proficiente 
O que consegue fazer? Entende, de fato, termos científicos e é capaz de aplicar conceitos da ciência para interpretar a realidade e em problemas do cotidiano. 

Quantos estão neste grupo? Apenas 5% do total de entrevistados. Entre os entrevistados que tinham apenas o ensino fundamental, 1% estava neste grupo. Do ensino médio, eram 4%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 11% eram deste nível.

Mercado de trabalho      
      
Mais do que dificultar algumas situações cotidianas simples, não dominar conceitos simples (como a habilidade de ler tabelas ou gráficos) também impacta o desempenho dos brasileiros no mercado de trabalho, segundo Ricardo Uzal, presidente do Instituto Abramundo.
A baixa produtividade da indústria nacional está aí para provar este fato. Segundo Uzal, o aumento da produtividade da economia depende de inovação e “a falta de conhecimento científico dificulta a busca por esta melhoria contínua”, afirma.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, metade dos profissionais que ocupam um cargo de chefia no Brasil chegaram até o nível 2 do índice de letramento científico – fato que sinaliza, no máximo, um domínio rudimentar das habilidades derivadas do conhecimento básico de Ciências. Veja o quadro por profissões: 

Profissão/Cargo
Básico
Rudimentar
Intermediário
Proficiente
Profissional liberal / Micro ou Pequeno Empresário / Comerciante / Empregador / Grande Proprietário rural ou industrial / Proprietário ou Produtor rural
13%
43%
30%
15%
Funcionário de nível alto / gerencial (setor público ou privado)
0%
28%
60%
12%
Funcionário de nível técnico / estagiário / trainee (setor público ou privado)
8%
44%
40%
7%
Autônomo formal
14%
51%
30%
5%
Funcionário de nível operação / produção (setor público ou privado)
14%
50%
33%
3%
Trabalhador informal, em casa ou fora de casa
25%
48%
23%
4%
Serviço doméstico, com ou sem carteira
29%
55%
13%
3%

O setor de educação é o que mais possui profissionais proficientes em letramento científico. Mas mesmo assim, a proporção é pequena: apenas 10% dos entrevistados que declararam trabalhar na área de educação atingiram o nível máximo da análise. Veja:

Setor
Básico
Rudimentar
Intermediário
Proficiente
Educação
5%
43%
41%
10%
Saúde
5%
50%
37%
8%
Prestação de Serviços
17%
48%
30%
6%
Indústria Transformação
13%
43%
38%
6%
Administração Pública
6%
37%
50%
6%
Comércio
14%
52%
29%
5%
Transporte
8%
46%
41%
5%
Construção
24%
48%
26%
2%
Atividade Doméstica
46%
54%
0%
0%
Agricultura
40%
60%
0%
0%
Inativo
43%
29%
29%
0%

Além de colocar os entrevistados para resolver problemas, a pesquisa também os questionou sobre o grau de dificuldade que eles tinham para compreender bulas de remédios, tabelas nutricionais ou calcular quanto de combustível era necessário para percorrer um percurso.

O resultado foi desalentador: 48% dos entrevistados não conseguem sequer entender uma tabela com informações nutricionais. Confira os 10 dados simples que muita gente no Brasil não consegue entender.

Fonte: Exame